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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

21 DE NOVEMBRO - A APRESENTAÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA NO TEMPLO - LIVRO MÍSTICA CIDADE DE DEUS


LIVRO MÍSTICA CIDADE DE DEUS 

Segundo Livro - Capítulo 1

CAPÍTULO 1

A APRESENTAÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA NO TEMPLO AOS TRÊS ANOS DE IDADE

A arca da aliança, figura de Maria Santíssima

413. Entre as figuras que, na lei escrita, simbolizam Maria Santíssima, ne­nhuma foi mais expressiva que a Arca do Testamento.
A matéria de que era feita, o que continha, o fim para o qual servia, o que por ela e com ela operava o Senhor naquela antiga Sinagoga. Tudo era um esboço des­ta Senhora e do que por Ela e com Ela realizaria em a nova Igreja evangélica.
O cedro incorruptível (Êx 25,10) de que - não por acaso, mas por divina disposição - foi construída, representa expressamente nossa arca mística, livre da corrupção do pecado atual e da oculta carcoma do original, com seu inseparável fontes e paixões.
O finíssimo e puríssimo ouro (Idem, 11) de que era revestida, por dentro e por fora, indubitavelmente significava a mais perfeita elevação da graça e dons que em seus divinos pensamentos, ações e costumes resplandecia.
Interior e exteriormente, foi im­possível divisar nesta arca, parte, tempo ou instante, em que não estivesse toda repleta e revestida de graça, e graça de subidíssimos quilates.


Maria, escrínio de Deus

414. As tábuas da lei, feitas de pedra, a urna do maná (Hb 9,4) e a vara dos prodígios, que aquela antiga Arca continha e guardava, não poderiam sim­bolizar com maior exatidão o Verbo humanado. Encerrado na arca viva de Maria Santíssima, foi seu Filho unigênito a pedra fundamental (ICor 3,11) e viva do edifício da Igreja evangélica; a pedra angular (Ef 2,20)que uniu dois povos tão opostos, como o judeu e o gentio.

Para isso foi cortada do monte (Dn 2,34) da eterna geração, gravada pelo dedo de Deus com a nova lei da graça, e depositada na arca virginal de Maria. En­tenda-se, portanto, que esta grande Rainha se tornou a depositária de quanto Deus era e fazia com as criaturas. Guardava também consigo o maná da Divindade e da graça, o poder e a vara dos prodígios e maravi­lhas, para que somente nesta divina e mística Arca se encontrasse a fonte das graças, o mesmo Deus, para Dela transbordarem as maravilhas e prodígios do poder divino. Quanto este Senhor é, quer e faz, saiba-se que em Maria está encerrado e depositado.

Maria, propiciatório e trono da graça

415. A tudo isto, era consequente que a Arca da Aliança (Êx 26,34), não pelafigura e sombra, mas pela verdade que simbolizava, servisse de peanha ou sustentáculo ao propiciatório. Neste pusera o
Senhor seu trono e tribunal de misericór­dia, para ouvir seu povo, responder-lhe e
conceder-lhe suas petições e favores.
Assim, em nenhuma outra criatu­ra, fora de Maria Santíssima, colocou Deus seu trono de graça. Não podia deixar de fazê-la propiciatório, uma vez que havia construído esta mística e verdadeira Arca para nela se encerrar.

Deste modo, parece que o tribu­nal da divina justiça ficou reservado a Deus, enquanto o propiciatório e tribunal da misericórdia foram dados a Maria dulcíssima. A Ela, como ao trono da graça, deveríamos ir com segura confiança, apre­sentar nossos pedidos, suplicar benefícios, graças e misericórdias que, fora do propiciatório da grande rainha Maria, nem são ouvidas, nem despachadas para o gênero humano.

Maria, a arca do Novo Testamento, deve­ria ficar no Templo

416. Tão misteriosa e sagrada Arca, construída pela mão do mesmo Se­nhor para sua habitação, e propiciatório de seu povo, não estava bem fora do templo, onde se encontrava guardada a outra arca material, figura desta verdadeira e espiritu­al do Novo Testamento.
Por esta razão, ordenou o Autor desta maravilha, que Maria Santíssima fosse colocada em sua casa, o templo, terminados três anos após seu felicíssimo nascimento.

Verdade é que, com grande admi­ração, vejo muita diferença entre o que sucedeu com aquela primeira e figurativa Arca, e o que acontece com a segunda e verdadeira.

Quando o rei David trasladou a arca para diferentes lugares, e depois seu filho Salomão a colocou no templo, seu lugar apropriado - ainda que aquela arca não tinha outra grandeza senão a de repre­sentar Maria Puríssima e seus mistérios -foram suas trasladações e mudanças festi­vas e cheias de regozijo para aquele antigo povo. Testemunharam as solenes procis­sões que fez Davi da casa de Aminadab e à de Obededon (2Rs 6,10; 2Par 23; 3Rs 8,5; 2Par 5) e desta ao tabernáculo de Sião (2Rs 12), cidade de Davi. Finalmente, de Sião foi trasladada por Salomão ao novo templo que edificara por ordem do Senhor, para casa de Deus e oração.

As trasladações da antiga arca e a apre­sentação de Maria

417. Em todas estas trasladações, conduziu-se a antiga arca da aliança com pública veneração, e culto soleníssimo de música, danças, sacrifícios e júbilo daque­les reis e de todo o povo de Israel. Refere-o a história sagrada nos livros segundo e terceiro dos Reis, e primeiro e segundo dos Paralipômenos.

Nossa mística e verdadeira Arca, Maria, entretanto, ainda que mais rica, estimável e digna da maior veneração entre todas as criaturas, não foi levada ao templo com tão solene aparato e ostentação públi­ca. Não houve nesta misteriosa trasladação sacrifícios de animais, nem pompa real e majestade de Rainha. Foi conduzida da casa de seu pai Joaquim, nos humildes braços de sua mãe Ana que, embora não fosse pobre, nesta ocasião levou sua que­rida Filha para apresentá-la ao templo ao modo dos pobres, com humilde recolhi­mento, sozinha e sem ostentação popular.

Toda a glória e majestade desta procissão, quis o Altíssimo fosse divina e invisível. Os mistérios de Maria Santíssima foram tão elevados e ocultos, que muitos deles até hoje são desconhecidos, pelos inescrutáveis juízos do Senhor, que reser­va tempo e hora oportunos para todas e cada uma das coisas.


Razão pela qual a apresentação da Vir­gem foi sem aparato

418. Admirando-me eu, na pre­sença do Altíssimo, desta maravilha elouvando seus desígnios, dignou-se Sua Majestade responder-me desta maneira: -Se ordenei que a arca do velho testamento fosse venerada com tanta festividade e aparato, era por ser figura expressa de quem seria Mãe do Verbo humanado.

Aquela arca era irracional e mate­rial e com ela podia-se, sem inconveniente, usar de tal celebridade e ostentação. Com a Arca viva e verdadeira, porém, não per­miti assim,enquanto viveu em carne mortal, para ensinar com este exemplo o que tu e asdemais almas deveis aprender, enquanto sois viadoras.

A meus escolhidos, gravados em minha mente e aceitação para eterna memó­ria, não quero que a honra e exagerado e ostensivo aplauso dos homens lhes sirva, na vida mortal, como recompensa do que fizeram para minha honra e serviço. Tampouco lhes convém o risco de repartir o amor, entre Aquele que os justifica e faz santos, e aqueles que os celebram por tais.

Um é o Criador que os fez, sus­tenta, ilumina e defende; único há de ser o amor e atenção, e não o devem repartir, ainda que seja para remunerar e agradecer as honras tributadas, com zelo piedoso aos justos. O amor divino é delicado, a vontade humana fragilíssima e limitada; dividida, pouco e imperfeitamente pode fazer, e depressa tudo perde. Para deixar este ensinamento, Eu não quis que fosse conhecida e honrada durante a vida, nem levada ao templo com ostentação e honra visíveis, Aquela que era santíssima e porminha proteção não podia cometer imper­feição.


O exemplo de Cristo e Maria, devem abonar a virtude e condenar o vício

419. Além disto, enviei meu Unigênito do céu, e criei aquela que seria sua Mãe, para desiludir os mortais e tirar do mundo o erro, que se tornara iniqüíssima lei estabelecida pelo pecado: ser o pobre desprezado e o rico estima­do; abatido o humilde e exaltado osoberbo; o virtuoso vituperado e o pe­cador acreditado: o modesto e recolhido julgado por insensato e o arrogante con­siderado corajoso, a pobreza humilhante e infeliz; as riquezas, fausto, ostentação, pompas, honras e deleites perecedores, procurados e apreciados pelos homens insipientes e carnais.

O Verbo e sua Mãe vieram repro­var e condenar tudo isto como ilusório eenganador, para que os mortais conheces­sem o formidável perigo em que vivem, amando e entregando-se tão cegamente, à falsidade do sensível e deleitável.

Deste insano amor lhes nasce o afã com que fogem da humildade, mansi­dão e pobreza, afastando de si tudo o que tem cheiro de virtude verdadeira, penitên­cia e abnegação de suas paixões. Entre­tanto, é isto que agrada à minha justiça, e é aceito a meus olhos, por ser o santo, o honesto, o justo que será recompensado com prêmio de eterna glória, enquanto o contrário receberá sempiterno castigo.

O espírito de Deus oposto ao do mundo

420. Os olhos terrenos dos mun­danos e carnais não conseguem ver esta verdade, nem querem aceitar a luz que ela lhes mostraria. Tu, porém, ouve-a, grava-a em teu coração pelo exemplo do Verbo humanado e de sua Mãe, que em tudo o imitou. Ela era santa, e em minha estima, a primeira depois de Cristo. Toda veneração e honra dos homens eram-lhe devidas, pois nem poderiam lhe dar o quanto mere­cia.
Todavia dispus que, por então, não fosse conhecida nem honrada, para nela ostentar o mais santo, o mais perfei­to, o mais apreciável e seguro que meus escolhidos deveriam imitar e aprender da mestra da verdade: a humildade, o escondimento, o retiro, o desprezo da enganadora vaidade do mundo, o amor aos trabalhos, às tribulação, desprezos, aflições e descrédito das criaturas.

Uma vez que tudo isto não se ajusta com os aplausos, honras e estima dos mundanos, determinei que Maria Puríssima não as tivesse, nem quero que meus amigos as recebam ou aceitem. Se, para minha glória, às vezes os torno co­nhecidos no mundo, não é porque eles o desejem, mas com humildade e sem dela se afastarem, se submetem à minha disposição e vontade. Quanto deles de­pende, para si só desejam e amam o que o mundo despreza e o que o Verbo humanado e sua Mãe Santíssima fizeram e ensinaram.
Esta foi a resposta do Senhor à minha admiração e reparo: com isto me deixou satisfeita e instruída de quanto desejo e devo executar.

São Joaquim e Sant'Ana levam Maria ao templo

421. Findo o prazo dos três anos determinado pelo Senhor, saíram de Nazaré,Joaquim e Ana, acompanhados de alguns parentes, levando consigo a verdadeira Arca da Aliança, Maria Santíssima, nos braços de sua mãe, para depositá-la no santo templo de Jerusalém.
Apressava-se a formosa Menina com fervorosos afetos, seguindo os perfu­mes de seu amado (Ct 1,3), para ir procurar no templo aquele mesmo que levava no coração. Esta humilde procissão seguia sem acompanhamento de criaturas terrenas nem visível aparato, mas com brilhante e numeroso séquito de espíritos angélicos.
Para celebrar esta festa haviam descido do céu, além dos que ordinariamente guarda­vam sua Rainha menina. Cantavam com música celestial novos cânticos de glória e louvor do Altíssimo, ouvindo-os a Prince­sa do céu, que caminhava com formosos passos à vista do supremo e verdadeiro Salomão.

Assim prosseguiram sua viagem de Nazaré até a cidade santa de Jerusalém,sentindo os ditosos pais da menina Maria grande júbilo e consolação espiritual.

Chegada ao templo

422. Chegaram ao templo, e nele entraram, a bem-aventurada Ana em com­panhia de São Joaquim, levando sua Filha e Senhora pela mão. Fizeram, os três, devota e fervorosa oração ao Senhor: os pais oferecendo a Filha, e esta oferecen-do-se a si mesma, com profunda humildade, adoração e reverência.
Somente Ela conheceu como o Altíssimo a aceitava e recebia. De um divi­no resplendor, que encheu o templo, saiu uma voz que lhe dizia:- Vem, esposa minha,escolhida, vem a meu templo onde quero que me louves e bendigas.
Terminada a oração, levantaram-se e dirigiram-se ao sacerdote que os abençoou. Todos juntos, levaram a Meni­na a um aposento onde se encontrava o colégio das jovens que ali se educavam, em internato e santos costumes, até chegarem à idade de tomar estado de matrimônio. Recolhiam-se ali, especialmente, as primogênitas da tribo real de Judá e da sacerdotal de Levi.

Maria despede-se de seus pais

423. Subia-se a este colégio poruma escada de quinze degraus, onde vie­ram outros sacerdotes receber a bendita menina Maria; aquele que a levava colocou-a no primeiro degrau.

Ela lhe pediu licença e, voltando-se para seus pais Joaquim e Ana, pôs-se de joelhos, beijou-lhes as mãos, pediu-lhes a bênção e rogou-lhes que a encomendas­sem a Deus.
Os santos pais abençoaram-na com grande ternura e muitas lágrimas, e a menina subiu os quinze degraus com incomparável fervor e alegria, sem voltar-se para trás, sem chorar, sem tomar qualquer atitude pueril, nem demonstrar sentimento pela despedida de seus pais. A todos ad­mirou vê-la com majestade e inteireza tão peregrina, em tão tenra idade. Os sacerdo­tes a receberam, levaram ao colégio das demais virgens, e o santo Simeão, sumo sacerdote, a entregou às mestras, uma das quais era Ana, a profetisa.

Esta santa matrona havia sido preparada com especial graça e luz do Altíssimo, para se encarregar da filha de Joaquim e Ana. Por divina disposição me­receu, por sua santidade e virtude, ter por discípula aquela que seria Mãe de Deus e mestra de todas as criaturas.
São Joaquim e Sant’Ana voltam a Nazaré. 

A escada de Jacó

424. Voltaram Joaquim e Ana para Nazaré, desolados e empobrecidos, sem o rico tesouro de seu lar, mas o Altíssimo os confortou e consolou.
O santo sacerdote Simeão, ain­da que no momento não conhecesse o mistério encerrado naquela Menina, teve, porém, grande luz de que era santa e escolhida do Senhor. Os outros sacerdo­tes sentiram também por ela grande admiração e reverência.
Naquela escada, que a menina subiu, realizou-se com toda a exatidão o que Jacó viu na sua (Gn 28,12): anjos que subiam e desciam; uns acompanhavam, outros vinham receber sua Rainha; no alto esperava-a Deus para aceitá-la por Filha e Esposa: e, em seus afetos amorosos, ela sentiu que verdadeiramente aquela era a casa de Deus e a porta do céu.

Maria confia-se à Mestra e cumprimen­ta as companheiras

425. Confiada à mestra, a meni­na Maria com profunda humildade, de joelhos lhe pediu a bênção e lhe supli­cou que a recebesse sob sua obediência, ensino e direção, tendo paciência pelo muito que com ela trabalharia e padece­ria. Ana profetisa, a mestra, recebeu-a com agrado e lhe disse: - Minha Filha, em mim achareis mãe e amparo e eucuidarei de vós e de vossa criação com todo o desvelo possível.
Em seguida, com a mesma humil­dade, Maria dirigiu-se a todas as meninas que ali se encontravam, cumprimentando-as e abraçando-as. Ofereceu-se para serva de todas, e pediu-lhes que, sendo mais velhas e mais instruídas no que deviam fazer, a ensinassem e mandassem. Final­mente, lhes agradeceu por a terem aceitado em sua companhia, apesar de não a mere­cer.

DOUTRINA DA SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA

Graça da vocação à vida religiosa

426. Minha filha, a maior felicida­de que, nesta vida mortal, uma alma pode receber é ser chamada pelo - Altíssimo à sua casa, para se consagrar ao seu serviço. Por este favor, a resgata de perigosa escravi­dão, e a liberta da vil servidão do mundo, onde, sem liberdade, deve comer o pão com o suor de seu rosto (Gn 3,10).'"
Quem há, tão insipiente e obscurecido, que não conheça o perigo da vida mundana, com tantas leis e costumes abo­mináveis, tais como a astúcia diabólica e a perversidade dos homens nela introduzi­ram?
A melhor parte é a vida religio­sa e o retiro. Aqui se encontra porto seguro. O resto é tormenta, ondas encapeladas, cheias de dor e desgostos. Não reconhecerem os homens esta ver­dade, nem agradecerem este singular benefício, é repreensível dureza de cora­ção e esquecimento de si mesmos.
Tu, porém, minha filha, não te faças surda à voz do Altíssimo. Atende, trabalha e corresponde a ela. Advirto-te que um dos maiores empenhos do demô­nio é impedir a vocação religiosa, quando o Senhor chama e dispõe as almas para se dedicarem ao seu serviço.

Aversão do demônio pela vida religiosa

427. Somente o ato público e sa­grado de receber o hábito e entrar em religião, ainda que não se faça sempre com fervor e pureza de intenção devidas, revol­ta e enfurece o dragão infernal e seus demônios. Não toleram a glória do Senhor, o gozo que sentem os santos anjos, além de saber aquele mortal inimigo, que a vida religiosa santifica e aperfeiçoa.

1- Comer o pão com o suor do rosto, está aqui empregado por "viver espiritualmente oprimido por ocupações frívolas" como se depreende da continuação do texto. Não significa, como de início pode parecer, que na vida religiosa coma-se o pão ociosamente, em contraposição comê-lo no mundo com o suor do rosto.
A vida religiosa é serviço, compreendendo portanto trabalho e sacrifício um alguns pontos mais do que no século. (N. da T.)

Acontece, muitas vezes, que ha vendo nela entrado por motivos humanos e terrenos, depois a ação da graça melhora e corrige tudo. Se isto sucede quando no princípio não houve intenção tão reta como convinha, muito mais poderosa e eficaz será a luz e virtude do Senhor e disciplina da religião, para a alma que a abraça movida pelo divino amor, e com íntimo e verdadeiro desejo de procurar, servir e amar a Deus.

Ser fiel sem olhar para trás

428. Para o Altíssimo reformar e aperfeiçoar quem entra no estado religio­so, qualquer que seja o motivo que o trouxe, convém que, tendo voltado as costas ao mundo, não torne a olhá-lo, apague suas imagens da memória e esqueça o que com tanta dignidade deixou.
Os que não seguem este ensi­namento e são ingratos e desleais a Deus, sem dúvida são atingidos pelo castigo da mulher de Jó (Gn 19,26). Embora pela divina piedade, não seja visível ao olhar exterior, interiormente é muito real, toman­do a alma seca, gelada, sem fervor nem virtude.

Sem o amparo da graça, não rea­lizam o ideal de sua vocação, nem aproveitam o benefício da vida religiosa. Nela não encontram consolo espiritual, nem merecem que o Senhor os olhe e visite como a filhos; mas são repudiados como escravos infiéis e fugitivos.
Lembra, Maria, que para ti o mun­do há de estar morto e crucificado e tu para ele, sem guardares afeto e recordação de qualquer coisa terrena. Se, às vezes, for necessário exercitar a caridade com o pró­ximo, ordena-a tão bem que, em primeiro lugar, ponhas o bem de tua alma, sua segu­rança, quietude, paz e tranqüilidade interior. Evitando os excessos viciosos, deves ser muito atenta a estas advertências, se quiseres permanecer em minha escola.

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